Dracena lembra lições de 2017: 'Não podemos perder para nós mesmos'

Edu Dracena
Cesar Greco / Agência Palmeiras
Edu Dracena já foi capitão em uma conquista de Libertadores, ganhou o Brasileirão por três clubes diferentes, marcou Lionel Messi e, mais recentemente, jogou contra o Boca Juniors em La Bombonera e venceu. Embora diga que se sente como se tivesse 28 anos, o zagueiro completará 37 no próximo dia 18 e tem a vivência no futebol como trunfo principal no Palmeiras - foi o que Roger Machado disse quando o colocou na vaga do jovem Thiago Martins. Do alto de sua experiência, ele ensina:

- O que nós não podemos é perder para nós mesmos. Não pode dar arma para o adversário. Então, primeiro a gente tem que resolver nossas coisas aqui dentro. Resolvendo aqui dentro, lá fora a gente fica mais forte ainda - disse, referindo-se a episódios do conturbado ano de 2017, que começou com enorme expectativa e terminou sem títulos. 

- Às vezes as coisas boas não ficam tão marcadas na cabeça, mas as negativas ficam. A gente pega sempre como exemplo: "não vamos deixar acontecer o que aconteceu contra a Ponte Preta (derrota por 3 a 0 no Paulista do ano passado), vamos entrar ligados" ou "se tiver algum problema aqui, vamos reunir e resolver, não vamos expor o Palmeiras e o grupo". Todo dia você está aprendendo. Você pode até errar, mas de outra maneira. É igual meu pai fala: errar é humano, mas persistir é burrice.

O Palmeiras tem um Dérbi para jogar no domingo, em Itaquera, mas usará força máxima no jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil, às 19h30 desta quarta, contra o América-MG, em Belo Horizonte. Mesmo Dracena, que tem um cronograma especial para evitar lesões, vai para o jogo. É mais um ensinamento que a temporada passada deixou: é preciso encarar todas as partidas com a mesma seriedade. Nesta entrevista ao LANCE!, concedida numa noite de sexta-feira após horas de trabalho regenerativo, o zagueiro falou sobre esse e outros tema.

LANCE!: O ano passado começou com tanta expectativa quanto esse, mas terminou sem títulos para o Palmeiras. Houve problemas internos, como o afastamento do Felipe Melo. Ficou a lição de que, quanto mais tranquilo estiver o ambiente na Academia, mais o elenco poderá entregar?
Edu Dracena: Foram pontuais as coisas que aconteceram, mas a gente aprendeu, tirou como lição. Você citou o Felipe agora, e ele está mais tranquilo, jogando, sendo importante para caramba, pensando só em jogar. Foi uma situação desagradável, mas passou e a gente aprendeu. Teve aquilo, teve discussões que ficaram só entre nós. Mas acontece. Se na sua família você briga com a esposa, com os filhos, imagine aqui com 30 pessoas se não vai brigar...

O ambiente parece estar muito bom. Depois da vitória em La Bombonera, vários de vocês postaram uma foto de um churrasco na casa do Marcos Rocha. Aquele evento foi importante?
Aquele dia a gente marcou um churrasco na casa do Rocha, só os jogadores mesmo. Não tinha comissão, não tinha ninguém. A gente já chegou a fazer aqui (na Academia), mas com todo mundo. Conversamos diversas coisas, não só futebol. Você fica mais à vontade, descontraído, um brinca com o outro. Não foi nada pensado para se fechar mais, porque o grupo aqui é muito bom. Aquela foto não foi para mostrar: olha, agora o time está unido. Não, sempre foi unido. Mas foi um momento só nosso, um momento que a gente precisava para estar entre nós.

As cobranças ao Dudu na Argentina também serviram para unir o grupo? Vocês se fecharam depois daquilo?
Sendo sincero, a gente nem conversou sobre isso que aconteceu. É lógico que todo mundo viu, é chato, mas o futebol é dessa forma. A gente aprende na nossa carreira que tem de ter tranquilidade no momento difícil. Um jogo pode mudar tudo novamente, entendeu? Quanto mais você é cobrado, é porque mais você pode dar. O pessoal sabe do seu potencial, sabe o que você pode dar. Se é justo ou injusto? É difícil analisar a cabeça do torcedor, não vou falar que está certo ou errado, mas acredito que todos que estão aqui no Palmeiras tentam fazer seu melhor. Empenho e dedicação não faltam em nenhum momento, para o Dudu ou qualquer jogador. Tem de passar, tirar lição disso e saber que o futebol tem dessas coisas.

Essa forma de lidar com coisas assim, com mais naturalidade, é um fruto da sua experiência? No início da carreira era diferente?
Você tem que, primeiro, parar e refletir: será que o que eles estão falando serve para mim? Se não servir, entra por um ouvido e sai pelo outro. "Pô, estou fazendo as coisas certas, tentando fazer meu melhor...". É continuar trabalhando. Só com trabalho você chega onde almeja. Eu aprendi muito com a idade. Lógico que no início eu ficava p... da vida. Não era justo. Eu lutava, me dedicava, e vinham as críticas. Mas isso você pega e transforma em combustível para dar a volta por cima logo no próximo jogo.

Já que falamos de La Bombonera, foi a sua primeira vez lá, certo? É um estádio diferente mesmo ou não achou tudo isso?
Lógico que é tudo isso, é um estádio mítico. Vai ficar marcado na história de todos. Podem passar não sei quantos anos que vão lembrar do primeiro time do Palmeiras que foi lá e ganhou do Boca. Foi uma emoção muito grande jogar lá, sim. É diferente. O clima, a atmosfera do jogo, você vê o fanatismo do argentino, a casa cheia. Sempre é gostoso jogar com estádio lotado, foi bem emocionante. Mas quando começa o jogo você fica tão concentrado que nem olha para o entorno.

Quando te colocou no time na vaga do Thiago Martins, que é um jovem, o Roger enfatizou principalmente a sua experiência. Isso fez diferença, sobretudo contra o Boca?
Eu gosto muito de falar dentro de campo, orientar, cobrar. Você me vê xingando, gesticulando. Antes de entrar no campo, falei entre nós: "Meu, hoje a gente tem que xingar e ser xingado. Acabou o jogo, somos todos amigos aqui". Experiência você adquire, não compra. Eu já fui jovem um dia, já tive a idade que os moleques têm hoje e passei pelas mesmas dificuldades. São grandes jogadores, moleques de futuro que o Palmeiras tem para a defesa. Com certeza eles vão ser titulares muito em breve e vão dar muita alegria.

Antes de voltar, você ficou na reserva de dois jogadores mais jovens. Como foi para você?

É aquela coisa que eu sempre falo: o futebol é muito dinâmico e você tem que estar sempre preparado, treinando e respeitando quem está jogando. Eu procuro ser sempre correto. Eu estou sendo titular hoje, mas não sou o titular. Eu estava na reserva, não era o reserva. O jogador tem que colocar na cabeça que é importante, jogando ou estando fora. As pessoas acabam te olhando de outra forma, como um exemplo, observam como você lida com uma situação adversa, como ficar no banco para dois jovens. Quem tem a ganhar é o Palmeiras, independentemente de jogar eu, Thiago, Antônio, Luan... A decisão é do treinador e o respeito tem de existir.

Você terminou a temporada passada muito bem, mas começou este ano com uma lesão na coxa esquerda e ainda passou por um período de pré-temporada individualizada. Como estão sendo esses primeiros jogos no retorno?
Fiquei um período longo sem jogar, tive um tempo para treinar. Mas treino é treino e jogo é jogo. Me preparei bastante para chegar esse momento, mas é lógico que ficar um tempo sem jogar faz o corpo sentir. Estamos fazendo todo o preventivo para que não venha a atrapalhar. Lógico que o pessoal da fisiologia e da parte física analisam junto com a comissão técnica para ver se fazemos uma sequência grande de jogos, ou se joga um e descansa outro. A ideia é estar disponível no maior número de jogos possíveis.

Nessa maratona de jogos, praticamente todos os atletas descansaram em algum momento. Curiosamente, vimos o Palmeiras poupar jogadores na Libertadores. Esse ano não tem mais prioridade para um campeonato ou outro?
Eu penso o seguinte: você tem que encarar jogo a jogo. São campeonatos diferentes. Você joga o Brasileiro, depois vem o mata-mata da Copa do Brasil, a Libertadores... Mas a gente tem que jogar sempre do mesmo jeito, procurando vencer. No ano passado a gente tirou uma lição também, porque perdemos muitos pontos bobos no Brasileiro. Aprendi que não se ganha o Brasileiro nas primeiras rodadas, mas se perde. O Palmeiras vai entrar para ganhar em todos os jogos.

Seu contrato acaba no fim deste ano. Já está pensando em renovar?
É difícil falar do futuro. Eu tenho que fazer meu presente. Eu quero continuar jogando, me sinto bem. É lógico que minha vontade é permanecer aqui, mas a gente sabe que muita coisa pode acontecer. Eu estando bem, as coisas vão caminhar da melhor maneira possível. Eu sempre fui um cara iluminado, o homem lá de cima me ajudou muito, não vai ser nesse momento que vai me abandonar.

Já te perguntei outras vezes sobre os planos para a aposentadoria. Você continua sem definir uma data específica para parar?
Não sei se eu te falei, mas quando eu tinha 27 anos eu dizia: "com 33 eu vou parar". Hoje estou com 36 e com vontade de jogar mais. Não tem como planejar o futuro. Eu estando bem, com prazer de treinar e jogar, me superar a cada dia... O mais bacana é superar os obstáculos e mais para a frente olhar para trás e pensar: venci tudo isso aí, então mereço um troféu (risos).

Agora, que você está até pesando os alimentos antes das refeições, fica mais fácil jogar mais tempo? O Zé Roberto virou espelho?
Isso me ajudou muito, cara. Essa parte de alimentação ajuda não só na minha vida como esportista, mas também na minha vida pessoal quando eu parar. Não como estou hoje, porque estou meio paranoico. Uma vez ou outra, quando parar, faz bem comer algo diferente. O Zé é um exemplo para nós, mas eu fui atrás porque uma pessoa me indicou. Quando cheguei aqui eu tive uma lesão. Cara, eu nunca tive uma lesão na minha carreira. Por que? Aí essa pessoa falou para eu ir atrás. Eu nunca fui um cara de comer besteira, sempre almocei e jantei em casa, minha esposa é nutricionista. Mas nunca tive um acompanhamento certinho. Me adaptei muito bem, não faz falta. Quando tenho vontade de comer alguma coisa, eu como, mas não é todo dia. Hoje nem me faz falta comer chocolate. Quando você faz e vê o resultado, dá vontade de fazer mais. Foi o que aconteceu. Me senti bem, fui me condicionando, jogando em alto nível. Vou fazer 37 anos agora, mas me sinto como se tivesse 28 ou 29 anos.

FONTE: LANCE
Postagem Anterior Próxima Postagem