Veja por que mega agência de investigação contratada pelo Palmeiras entrou no futebol

Na última terça-feira, um depoimento de oito horas e 10 minutos ocorreu na sede do TJD-SP (Tribunal de Justiça Desportiva do Estado de São Paulo) para determinar se houve interferência externa na decisão do árbitro Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza em anular o pênalti que ele havia concedido durante o 2º tempo da partida entre Palmeiras e Corinthians, pelo jogo de volta da final do Campeonato Paulista, no Allianz Parque.
Para atuar em sua defesa, o "Verdão" contratou dois "reforços": o advogado José Luis Oliveira Lima, conhecido por ter trabalhado em alguns dos casos mais "cascudos" do país nos últimos meses, e a Kroll, gigante global do ramo de investigação privada.
Sediada nos Estados Unidos, a empresa conta com mais de 50 escritórios em aproximadamente 30 países e já teve atuações marcantes no Brasil.
Em 1992, por exemplo, ela foi contratada pelo Congresso Nacional e participou na investigação de denúncias contra Fernando Collor de Mello, então presidente da República, rastreando as contas bancárias do tesoureiro PC Farias.
Mais recentemente, trabalhou na CPI da Petrobras para rastrear recursos desviados da estatal para o exterior, em um contrato de R$ 1,18 milhão firmado pela Câmara.
No entanto, a Kroll, que foi fundada em 1972 e sempre atuou nos setores de investigação corporativa e análise de risco, resolveu entrar "de cabeça" no mundo do futebol em junho do ano passado, quando contratou o inglês Alex Horne, ex-secretário-geral e CEO da FA (Associação de Futebol da Inglaterra) para atuar como Consultor de Esportes.
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Em uma entrevista de apresentação no site da empresa, o britânico explicou por que aceitou o desafio de se tornar um investigador após seu trabalho de mais de 10 anos como dirigente na Federação Inglesa.
"Passar mais de uma década na FA me mostrou claramente os desafios que os clubes e organizações enfrentam quando fazem transações financeiras e comerciais, investigam problemas internos e gereciam sua reputação", salientou.
"As organizações esportivas tem se tornado cada vez mais um alvo de regulação e de escrutínio público. O montante de dinheiro que entra no setor esportivo a partir de várias fontes globais não para de aumentar, e junto com isso vem a necessidade cada vez maior de preservar a integridade das marcas tanto pelas organizações quanto pelos atletas. Diariamente, todos eles têm que promover seus perfis de maneira cautelosa, ao mesmo tempo em que não causam danos às suas reputações", explicou.
"São nessas três áreas em que eu acho que a Kroll irá ajudar seus clientes do mundo do esporte: diligência, investigação e proteção de dados digitais", concluiu.
No caso do Palmeiras, a Kroll e Horne usam sua expertise para tentar provar que houve interferência externa na anulação do pênalti marcado por Marcelo Aparecido Ribeiro de Souza na final do Campeonato Paulista.
Os investigadores tentam mostrar através de vídeos e contradições nos depoimentos que Ribeiro de Souza recuou na decisão de marcar a penalidade após ser informado por fontes externas de que o volante Ralf, do Corinthians, teria tocado na bola antes de derrubar o atacante Dudu na área.
Caso seja provada a interferência, a final do Paulista pode ser anulada, de acordo com o próprio regulamento do campeonato organizado pela FPF (Federação Paulista de Futebol).
Em entrevista à ESPN na última quinta, o advogado José Luis Oliveira Lima, que atua ao lado da Kroll na defesa palmeirense, afirmou que pleiteia a anulação da decisão do Paulistão caso a interferência externa seja realmente constatada.
"O Palmeiras quer trazer à tona a verdade dos fatos. Se a verdade for demonstrar ao tribunal que houve interferência externa e que a partida tem que ser anulada, é isso que o Palmeiras irá pleitear. Afinal, está no regulamento (do Estadual)", afirmou.
Ainda de acordo com Oliveira Lima, as provas da interferência alegada pelo "Verdão" são claras.
"Ficou claro que houve interferência externa, até mesmo pelo enorme número de contradições nos depoimentos dados pelos árbitros. Falaram árbitro, 4º árbitro, 5º árbitro, assistentes, diretor de arbitragem, delegado do jogo, e todos se contradisseram", afirmou.
"Nos depoimentos, aliás, várias vezes foi dito pelos árbitros que eles não se lembram com clareza ou se esqueceram de vários fatos, e, por se tratar de acontecimento fato recente [a partida aconteceu no dia 8 de abril], não há tempo para tantos lapsos de memória", completou.
No passado, a Kroll trabalhou pontualmente em casos esportivos, quase sempre investigando corrupção. Em 2011, por exemplo, a empresa foi contratada pelo Comitê Executivo da Copa 2022, no Catar, para checar "antecedentes e reputação" de diversos dirigentes da Fifa que votaram no pequeno país do Oriente Médio para sediar o Mundial.
Do outro lado, a companhia também foi usada por dirigentes corruptos, como o taitiano Reynald Temarii (que está banido do futebol desde 2015) para investigar dois jornalistas do jornal inglês Sunday Times, que o gravaram de maneira oculta aceitando propina para votar no processo de escolha das sedes da Copa 2022.

SEQUÊNCIA DO CASO PALMEIRAS x FPF

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Na longa sessão de terça, falaram nomes importantes do processo, como o 4º árbitro, Adriano de Assis Miranda, e Dionísio Roberto Domingos, diretor de arbitragem da FPF (Federação Paulista de Futebol) - ele é, inclusive, o acusado pelo clube do Palestra Itália de ser o responsável por ter contato com informações de fora do estádio e ter feito elas chegaram ao árbitro para anular o pênalti.
Após a colheita de depoimentos, o auditor responsável pelo caso no TJD-SP, Marcelo Monteiro, esperou até 12h (de Brasília) da última quinta-feira pela apresentação de novos vídeos tanto de Palmeiras como FPF. Depois, formulará um relatório, que pode ser apresentado na próxima segunda-feira.
O documento será submetido à procuradora Priscila Carneiro de Oliveira e ao presidente do tribunal, Antônio Olim, que podem acatar a denúncia e marcar julgamento ou optar por encerrar o caso. Qualquer decisão caberá recurso.
FONTE: ESPN
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