Prass analisa erros e acertos e diz o que espera para 2018


Fernando Prass é o atleta do elenco atual do Palmeiras há mais tempo no clube. Em cinco temporadas, o goleiro viveu de tudo no clube. Da Série B em 2013 ao protagonismo na conquista da Copa do Brasil dois anos depois, passando pelo drama da lesão no cotovelo que o tirou de grande parte da campanha vitoriosa no Brasileirão 2016 e, principalmente, dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, Prass tem experiência de sobra. E conhece o Palmeiras como ninguém.
Pouco antes de voltar ao trabalho, na última quarta-feira, o goleiro recebeu o Globoesporte.com na Guarda do Embaú, em Santa Catarina, praia onde costuma passar as férias com a família e onde seu pai, Artur, tem um restaurante. Aos 39 anos e com o contrato renovado até o fim de 2018, Prass avaliou os erros do ano que passou, falou sobre a expectativa de ser treinado por Roger Machado, que foi seu companheiro de clube no começo da carreira no Grêmio, e a concorrência com Jailson e Weverton pela posição de titular.

O que não funcionou em 2017 no Palmeiras?

– É difícil falar... Pelos dois anos anteriores que a gente teve, vencendo a Copa do Brasil e o Brasileiro, criou-se uma grande expectativa de fora para dentro do clube. De dentro para fora, também, mas muito mais de fora para dentro. As pessoas diziam que o Palmeiras iria ganhar tudo pelas contratações que havia feito. Acabou que a gente não conseguiu conquistar um título. O mais perto que a gente chegou foi o vice do Brasileiro. E aí, veio uma frustração muito grande. Também houve as trocas de treinador... A gente terminou o ano com o Cuca, aí veio o Eduardo Baptista, depois voltou o Cuca, teve o Alberto Valentim... Isso também atrapalhou e não deixou a gente confirmar as expectativas que criaram em cima da gente.

Houve uma frustração muito grande entre os jogadores?

– Hoje em dia, tu tens uma interação com o ambiente externo do clube muito grande. Sem dúvida nenhuma, a gente era contaminado por essa expectativa de títulos. À medida que a gente não conseguiu ganhar o Campeonato Paulista, depois a Libertadores e tudo mais, é óbvio que isso gerava uma frustração e a cobrança era cada vez maior. Tu perdias o Paulista, vinha uma cobrança maior para a Copa do Brasil... Saías da Copa do Brasil, uma cobrança maior para a Libertadores e para o Brasileiro... Então, isso tudo foi potencializado. E a gente entende que agora, em 2018, vai ser mais ou menos parecido, se não pior, em termos de cobrança. Mas, por outro lado, acho que a gente vai estar mais preparado para enfrentar este ano do que a gente estava em 2017.

Qual é a lição de 2017?

– A gente tem que ter uma avaliação muito mais interna do que externa. A gente tem que tentar se blindar do que vem de fora. E não apenas para as coisas negativas, mas para as positivas também. A gente tem muitos exemplos que mostram que, tanto as positivas quanto as negativas, se tu não consegues filtrar e ter um equilíbrio, elas vão te atrapalhar. Porque tu achas que tem um potencial além do que tu tens ou o contrário. Às vezes, tu acabas acreditando que teu time está tão mal quanto as pessoas de fora falam e não é assim. A gente tem que ter maturidade, sabedoria e tranquilidade para conseguir equilibrar essas coisas nos bons e nos maus momentos. Durante um ano, o futebol é mais ou menos como uma montanha-russa: tem altos e baixos. E o time vencedor é o que consegue se manter mais tempo no alto, porque vai oscilar também.

Para você, individualmente, como foi o ano de 2017?

– Foi um ano um pouco complicado. Na minha avaliação, eu tive um período, em junho e julho, em que eu fugi um pouco do meu histórico, que sempre foi de regularidade nesses 20 anos que eu tenho como profissional. Foi um mês e meio em que eu tive alguns problemas. Mas, em setembro, quando eu voltei a jogar e fiz toda a reta final do campeonato, mais de 20 jogos, eu acho que voltei ao meu normal, a um nível de atuação bom que eu estava acostumado a fazer.



Fernando Prass recebeu a reportagem do Globo Esporte no restaurante que o pai dele (de boné, ao centro) mantém em Guarda do Embaú, Santa Catarina (Foto: Thiago Macedo)
Por que você fez questão de continuar no Palmeiras e renovar o contrato?


– Porque eu aprendi a gostar do clube. Eu cheguei ao Palmeiras num momento do clube em que ninguém queria vir para cá. Todo mundo tinha medo de vir para o Palmeiras, porque falavam que era um clube de uma pressão absurda, na Segunda Divisão e com uma condição financeira muito difícil. E eu aceitei o desafio. Saí do Vasco, onde eu tinha sido campeão da Copa do Brasil, vice-campeão Brasileiro, tinha 200 e tantos jogos e já estava estabelecido. E eu sempre falo: não vim pelo que o Palmeiras estava disputando na época e pela condição do Palmeiras na época. Eu vim pelo clube, pelo que eu achava que poderia contribuir para o Palmeiras e o Palmeiras poderia contribuir para mim no plano que eu tinha de ter uma carreira mais longeva. E deu certo. No Palmeiras, eu encontrei tudo que eu precisava, a estrutura que eu precisava para conseguir me manter em alto nível. E hoje, a gente vê que é o contrário: todo mundo quer vir jogar no Palmeiras. Muitos jogadores se oferecem para jogar no Palmeiras. E eu quis ficar justamente por isso. Eu vim lá atrás quando a situação estava ruim e, hoje, eu me sinto um pouco responsável pela situação em que o Palmeiras está, porque eu passei por todo o processo. Da Série B; do ano de 2014, que foi o ano do centenário, da inauguração da Arena e um ano difícil; depois, a conquista da Copa do Brasil e do Brasileiro... Então, eu vi o projeto desde o início e isso me dá ainda mais satisfação e prazer.

O Palmeiras ter contratado um goleiro para 2018 te incomoda?

– Não. As pessoas usam isso para ter notícia, para ter discussão e assunto... Desde 2012, quando eu cheguei no Palmeiras, foi assim. Em 2012 para 2013, me contrataram. Em 2014, o Jailson. Em 2015, o Aranha. Em 2016, contrataram o Vagner. Quer dizer, em todos os últimos cinco anos, se contratou um goleiro. Só um ano que não, em 2017. Então, o que deveria causar surpresa e discussão, foi o ano de 2017, que fugiu da curva. É normal. Assim como o Palmeiras contrata lateral-direito, zagueiro, volante, atacante... Eu citei quatro ou cinco goleiros que foram contratados. Isso é mais do que natural no futebol. Se fosse diferente, o Palmeiras teria que ter um goleiro só e o clube, dentro do seu planejamento, sempre teve três ou quatro goleiros, até cinco com um que vem da base. É natural e não me incomoda em nada. O Palmeiras tem três laterais-esquerdos bons, cinco zagueiros, cinco meio-campistas, cinco volantes, meias, atacantes... O Palmeiras se preocupou em se reforçar em todas as posições. E isso é uma maneira de elevar a competitividade sempre, apesar de já haver essa competitividade. Hoje o Palmeiras tem condições de contratar e todo mundo quer jogar no Palmeiras. Então, fica mais fácil para o clube trazer bons jogadores.

O que você espera de trabalhar com o Roger Machado?

– Eu conheci o Roger como jogador. De acompanhar ele jogando, porque eu era gremista e fui muitas vezes no Olímpico para vê-lo jogar. E fui companheiro dele em dois anos, 1998 e 1999. Eu ainda como jogador dos juniores e depois um ano no profissional do Grêmio. Como treinador, eu nunca trabalhei com ele. Mas, tenho vários amigos jogadores que trabalharam com o Roger e as informações são as melhores possíveis. Um cara muito correto, muito íntegro e com um trabalho dentro de campo muito bom, dinâmico e atualizado. A gente torce para que ele tenha o tempo necessário no Palmeiras para conseguir desenvolver o trabalho. Eu sempre falei que a minha concepção de futebol é continuidade. Só assim para conhecer melhor o teu companheiro, saber como cobrar e elogiar, vai conseguir dar padrão de jogo para o time, criar um ambiente de grupo muito mais fechado... É uma série de situação que tu só vais conseguir com o tempo... Jogadas ensaiadas, padrão de jogo, variações de jogo... São coisas que com seis meses, aqui no Brasil, tu não consegues, porque é jogo em cima de jogo. E é o que vai ser em 2018. Com a parada da Copa, as duas metades do calendário terão jogo em cima de jogo e o mínimo de tempo para treinos. A gente torce para que as pessoas tenham paciência para que o Roger possa trabalhar e que a gente pare um pouco com essa troca frenética de treinadores no Brasil para termos times mais organizados e com mais qualidade de jogo.


Fonte: Globo Esporte
Postagem Anterior Próxima Postagem