De título perdido a aposentadoria: Cleiton Xavier busca afastar fantasmas


Cleiton Xavier Palmeiras (Foto: César Greco / Ag. Palmeiras / Divulgação)

Cleiton Xavier iniciou 2016 cheio de esperança. De férias em São José da Tapera, sua cidade natal, no interior de Alagoas, contratou um personal trainer para cumprir um cronograma de treinos montado pelo Palmeiras. Ouviu elogios do presidente Paulo Nobre, que deu a ele o título de maior aposta para a temporada. Em meio ao período de preparação para o início do Campeonato Paulista, viu tudo ruir a cinco minutos do final de uma atividade.  
Após disputar apenas 17 partidas no ano passado justamente por conta das lesões, Cleiton, enfim, via a chance de se firmar como a camisa 10 que a torcida esperava. Três dias antes de uma viagem ao Uruguai, para a parte final da pré-temporada, sentiu a panturrilha direita. Uma lesão grave, que fez o meio-campista até mesmo cogitar a aposentadoria.  
– Foi um momento em que eu desabei mesmo. Conversei com meus amigos, família... Minha mulher me aguentando todos os dias (risos). Fiquei chateado em casa. Mas isso acabou me dando mais força. Agora passou, esqueci. Tenho fé em Deus de que não vai mais acontecer – contou, em entrevista exclusiva ao GloboEsporte.com.  
A cada vez que eu me machucava,  ficava muito triste, passavam mil coisas pela cabeça. Até parar de jogar bola, tentar fazer alguma (outra) coisa"
Cleiton Xavier, meia do Palmeiras
– A cada vez que eu me machucava, eu ficava muito triste, passavam mil coisas pela cabeça. Inclusive até pensei em parar de jogar bola, tentar fazer alguma (outra) coisa. Foram momentos muito difíceis.
Do lado de fora do campo, Cleiton Xavier assistiu à queda precoce do Palmeiras na fase de grupos da Taça Libertadores da América. Confessou que viu um filme passar pela própria cabeça quando assistiu ao jogo contra o Rosario Central (o Verdão precisava vencer para não se distanciar da fase seguinte do torneio continental). Lembrou de 2009, do jogo contra o Colo Colo, no Chile, quando marcou um golaço que levou o time à vitória por 1 a 0 em Santiago e à vaga nas oitavas de final.  
– Às vezes, na rua, o pessoal falava: "Poxa, se você for para o jogo, tem de fazer igual àquele, de 2009, contra o Colo Colo". Sabemos que cada jogo é uma nova história, é diferente, mas sem dúvida gostaria de estar em campo. Não só para fazer o gol da classificação, mas para poder ajudar meus companheiros – lamentou. 
No Campeonato Brasileiro daquele ano, o meio-campista passou por um drama semelhante. Após o Palmeiras liderar a competição durante 17 rodadas, o time perdeu a ponta a apenas cinco partidas do fim, se desestabilizou e acabou até mesmo fora do G-4.
Sob o comando de Muricy Ramalho, o Palmeiras era líder do Brasileirão até a 33ª rodada. Na 34ª perdeu do Fluminense e caiu para segundo. Na 35ª, empatou com o Sport e foi para terceiro. Na rodada seguinte tropeçou no Grêmio e ficou em quarto. Na 37ª ganhou do Atlético-MG e voltou para terceiro. Na última rodada, derrotado por 2 a 1 pelo Botafogo, no Engenhão, o Verdão caiu para o quinto lugar e terminou o nacional sem vaga na Libertadores
Recuperado física e emocionalmente, Cleiton Xavier conta, na entrevista que você lê na íntegra abaixo, como quer afastar os fantasmas do passado e corresponder à confiança da torcida para terminar o ano vibrando como titular e campeão.
Repórter : em uma entrevista nesta semana, o Moisés, que também passou por uma lesão grave, disse que descontou a ansiedade na comida. E você, no que se apegou? 
Cleiton Xavier: Não é só ele, não. É quase todo mundo. Sendo atleta ou não, quando estamos um pouco estressados, às vezes acabamos descontando na comida, no chocolate. Comigo também aconteceu um pouco disso. Preferi me apegar aos meus amigos, aos meus familiares, porque eu sabia que todo apoio deles seria muito importante, como está sendo até hoje.  
O que passou na sua cabeça quando você descobriu que ficaria fora um longo período mais uma vez? 
Eu não desejo para ninguém, é muito ruim. Você que precisa do seu corpo para trabalhar, de repente, se vê sem. É muito triste. A cada vez que eu me machucava, eu ficava muito triste, passavam mil coisas pela cabeça. Até em parar de jogar bola, tentar fazer alguma (outra) coisa. Fizemos vários exames aqui para ver se detectava alguma coisa que eu não sabia, mas estava tudo bem. Foram momentos muito difíceis. 
Você chegou a cogitar a aposentadoria depois de tantas lesões. Qual foi a que te deixou mais abalado? 
Foi mais após a última vez em que eu me machuquei. Eu estava muito bem na pré-temporada. Tinha treinado nas férias. Paguei um personal, um amigo particular, para treinar. Eu me sentia bem. Pensava que era meu melhor momento. E no último dia da pré-temporada acabei machucando a panturrilha. Foi um momento em que eu desabei mesmo. Conversei com meus amigos, família... Minha mulher me aguentando todos os dias (risos). Fiquei chateado em casa. Mas isso acabou me dando mais força. Agora passou, esqueci. Tenho fé em Deus que não vai mais acontecer. 
Assim que você deixou o treino, qual foi a primeira reação? 
Na hora eu falei: "Cara, não acredito". Foi um lance muito bobo, faltando cinco minutos para acabar o treino. Isso não podia acontecer. Mas quando tem de acontecer... Às vezes, não temos muita explicação para isso. Eu fiquei chateado, mas aceitei. Tive de aceitar. Consegui força em casa e segui em frente.  
Como foi acompanhar do lado de fora a conquista da Copa do Brasil e, depois, a eliminação na Taça Libertadores da América? 
São dois momentos distintos. Apesar de não estar jogando, ser campeão da Copa do Brasil foi muito importante para o clube. Foi bom fazer parte de um elenco vitorioso. Outro momento é ser desclassificado de um campeonato que é um sonho não só para o torcedor e para o clube, mas para nós, jogadores. É o ápice do jogador. Foi triste, mas nos reerguemos, levantamos a cabeça, sabemos que temos muita coisa pela frente nesse ano. 
Cleiton Xavier treino palmeiras (Foto: Agência Estado)Cleiton Xavier em sua primeira passagem pelo Palmeiras (Foto: Agência Estado)
Naquele jogo contra o Rosario Central, que o Palmeiras precisava vencer de qualquer maneira para seguir com chances na Libertadores, você lembrou do gol contra o Colo Colo? 
Lembrei muito. Às vezes, na rua, o pessoal falava: "Poxa, se você for para o jogo, tem de fazer igual àquele, de 2009, contra o Colo Colo". Sabemos que cada jogo é uma nova história, é diferente, mas sem dúvida gostaria de estar em campo. Não só para fazer o gol da classificação, mas para poder ajudar meus companheiros. Foi um jogo em que a equipe toda se fortaleceu muito. Tenho certeza que depois daquele dia, se mantivermos o nível, vamos ter frutos bons pela frente.  
Esse período que vocês estão passando no interior faz diferença? Aumentam as chances do time para o Campeonato Brasileiro? 
Além de nos aproximarmos mais uns dos outros, tem a questão dos treinamentos. Você fica mais concentrado para treinar, tem uma estrutura boa, alimentação, descansa bem. Tudo se encaixa. Temos tudo para fazer um bom Campeonato Brasileiro e uma boa Copa do Brasil.  
Como você avalia o trabalho do Cuca até aqui? 
Ele está procurando ter um contato com todo mundo, conversar, perguntar como gostamos de jogar. O Cuca é muito inteligente. Por onde passou, fez uma carreira brilhante, conquistou títulos. Não tenho dúvidas de que aqui vai marcar história também. O Cuca é conhecido por conversas particulares com os jogadores. No dia do jogo contra o River do Uruguai, ele me chamou de canto, perguntou como eu estava, se aguentava jogar pelo menos 20 ou 30 minutos, se precisasse. Aquela conversa me motivou muito. Era tudo o que eu mais queria, ir para o jogo mesmo sem 100% das condições, sentir o clima, a torcida. Foi importantíssima essa conversa.  
A torcida te cobrou muito nesse período em que você ficou fora? 
Lógico que existe cobrança, não só da torcida, mas partindo de mim mesmo também. Eu sei o carinho que a torcida tem comigo e quero retribuir dentro de campo, fazendo o que eu gosto, o que eu sei. Tive mais apoio do que cobrança mesmo. Foi uma coisa impressionante. Por isso vou ser sempre grato à torcida por esse carinho.  
Cuca disse que o Campeonato Brasileiro vai terminar com o Palmeiras campeão. Pode ser também o campeonato do Cleiton Xavier? 
Pode, sim. Sem dúvida. Não só meu, mas de todos. Conquistar um título brasileiro seria importante para a carreira de todos aqui. Em 2009 ficou um gostinho de vestir essa camisa e ser campeão brasileiro. Aquele ano nunca saiu da minha cabeça. Faltou alguma coisinha. Talvez neste ano possamos ser campeões. 
O que você diria à torcida hoje? 
A mensagem que posso deixar é agradecer por todo o apoio. Que eu possa retribuir isso dentro de campo e, no fim do ano, possamos comemorar juntos.

Cleiton Xavier Palmeiras (Foto: Cesar Greco/Ag Palmeiras/Divulgação)
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