Moisés conta seus objetivos e fala em Seleção: 'O sonho está vivo em mim'

Camisa 10 do Palmeiras fala de suas tristezas, alegrias e objetivos, sai em defesa de Cuca e Alexandre Mattos e conta por que 'mergulhou de cabeça' no clube

Conquistar a Libertadores e chegar à Seleção Brasileira eram os maiores objetivos de Moisés quando o ano começou. E continuam sendo, mesmo depois da grave lesão no joelho que o tirou dos gramados por mais de cinco meses e da eliminação do Palmeiras nas oitavas de final da competição sul-americana. O Profeta precisou voltar alguma casas, mas o destino final continua o mesmo.
- Seleção era um objetivo meu para o ano de 2017, comecei o ano com esse pensamento. E esse sonho não morreu, não. Está bem vivo aqui dentro de mim. Eu sou muito realista, tenho noção do que pode e do que não pode acontecer, e hoje sei que estou um pouco distante disso por várias circunstâncias: a Copa está chegando, o time está meio que fechando, e eu estou voltando de uma lesão, não estou ainda no ritmo em que terminei o ano passado. Então o que eu mais procuro fazer nesse momento é focar no Palmeiras, em melhorar meu nível de jogo a cada dia, procurar chegar naquele nível que atingi no ano passado. A partir disso, esse sonho volta a aflorar. Nesse momento o sonho está guardado aqui - disse.

A caminhada recomeçou no momento em que o Profeta tirou da cabeça que o destino talvez não quisesse vê-lo disputando uma Libertadores pelo Palmeiras - no ano passado, uma lesão no pé o tirou de toda a competição. Seu objetivo passou a ser, então, recuperar-se a tempo de disputar o jogo de volta contra o Barcelona de Guayaquil, pelas oitavas de final. A partir daí, os outros sonhos seriam reacesos. E ele conseguiu: voltou a jogar futebol cinco meses e 15 dias depois de reconstruir dois ligamentos do joelho esquerdo, contrariando as previsões médicas que diziam ser necessário esperar entre seis e nove meses.

- Quando me machuquei, eu falei: "Não é possível, de novo na Libertadores...". Mas foi só naqueles primeiros dias que pensei assim. A Libertadores é para mim, sim, e eu vou jogar mais vezes. Já estreei de uma forma marcante. Fomos desclassificados, mas foi uma mistura de emoções, com a alegria de fazer um gol e depois a tristeza de ser eliminado. Não tenho dúvida de que vou disputar novamente, vou disputar com o Palmeiras, e tenho muita confiança e fé de que em breve vamos estar ganhando essa competição - declarou o meia.

Nas linhas abaixo, Moisés fala da felicidade que sentiu ao suportar um entrada dura em sua perna esquerda logo no primeiro jogo após a cirurgia, contra o Atlético-PR, sai em defesa de Cuca e Alexandre Mattos e fala sobre sua intensa relação com o Palmeiras e sua torcida:

LANCE!: Você começou o ano cheio de objetivos, mas logo sofreu uma grave lesão no joelho e colocou na cabeça que queria voltar antes dos seis meses e jogar a Libertadores. Como os médicos reagiram a isso?

Moisés: Quando eu machuquei, fui ver a tabela, olhar onde poderia chegar. E sempre coloquei na cabeça que iria estar nesse segundo jogo, mesmo com tudo indicando que não daria. Às vezes os fisioterapeutas e os médicos diziam: "Calma, calma, porque não é assim". Mas era um objetivo meu e consegui, não só por minha causa. Foi um conjunto de coisas: minha família me ajudando, a estrutura que o Palmeiras tem, os profissionais que tem, minha dedicação e Deus me abençoando. Fiquei muito feliz de ter conseguido atingir esse objetivo, mesmo que no fim não tenha sido da forma que todos gostariam, mas é de se ressaltar a minha recuperação, o que o Palmeiras fez, a forma que cheguei... Muitos falaram que o Palmeiras estava me pressionando, antecipando minha volta, e ficou provado que não antecipou nada. Eu voltei porque realmente estava bem.

E você tomou uma entrada muito forte no jogo contra o Barcelona, justamente no joelho esquerdo. Chegou a temer por uma nova lesão?

No meu primeiro jogo, contra o Atlético-PR (três dias antes da partida contra os equatorianos), eu tomei uma entrada muito forte com cinco minutos em campo. Poderia me machucar, e foi logo na perna esquerda. O Sidcley me deu um carrinho, meio que lateral, por trás. De repente, se fosse no outro joelho, eu poderia machucar igual. E se eu machuco ali muita gente iria dizer que eu tinha voltado antes. Foi uma prova de que eu estava forte, muito bem... A partir dali, quando tomei aquela porrada e não senti nada, eu falei: "Cara, eu estou muito bem. Posso jogar tranquilamente". Aí no jogo seguinte, contra o Barcelona, eu tomo mais uma entrada muito forte. Fiquei um pouco preocupado, é normal. Antes de bater os pênaltis, o doutor veio em mim e perguntou: "Vamos analisar?". Eu falei: "Não, doutor, a princípio eu sei que não é nada. Deu para ver que não é grave, é a dor da pancada". Mas fica aquele resquício, né? Será que aconteceu alguma coisa de novo? Mas graças a Deus não foi nada, fizemos exame no dia seguinte e deu tudo certo. Já estamos indo para o quarto jogo sem nenhum problema, e a tendência é só evoluir a cada dia.

Sua recuperação foi em tempo recorde? Chegou a perguntar para os profissionais do Palmeiras se houve outro caso como o seu?

Eu não sei se foi recorde, mas era uma lesão bem complicada. Além de romper os dois ligamentos, teve algumas outras complicações no menisco, no cruzado posterior... Houve algumas outras micro-lesões que poderiam dificultar, aumentar esse prazo. A gente ficou muito feliz, não só eu, mas todo o departamento de futebol, porque essa recuperação mostra o quão grande está o Palmeiras, mostra o momento do Palmeiras na parte clínica, médica e no futebol. A gente tem certeza que os próximos anos serão de muitas vitórias e títulos.

Em determinado momento da sua recuperação, os médico e fisioterapeutas diziam que você estava com mais massa magra do que antes da lesão. Ou seja, estava até melhor fisicamente. Você acompanha esses índices? É isso mesmo?

Sim, até porque era importante eu perder um pouco mais de gordura e ganhar mais massa para que o joelho ficasse mais protegido, meu pé também. Agora, jogando só o Campeonato Brasileiro, vai dar para a gente manter ou até melhorar essa questão física e engrenar ainda mais. Tem tudo para eu fazer um bom segundo turno, não sei se igual ao do ano passado, mas bem perto disso, porque vou ter tempo para treinar, ganhar força, não perder a massa...

E essa pausa no Brasileirão veio em boa hora, não? Depois de tanta pressão, vocês venceram um clássico contra o São Paulo e agora têm tempo para trabalhar em paz.

Foram dias realmente pesados, né? Essa vitória veio no momento certo, porque se fosse para viver essas duas semanas com mais uma derrota, até mesmo um empate, não seria legal. A gente fica feliz de ter vencido, de ter apresentado um melhor futebol. Não é o que nós queremos ainda, mas já mostramos evolução. E ter essas duas semanas para trabalhar é ainda melhor, inclusive para mim, que estou retornando de lesão. Quanto mais eu puder treinar e evoluir minhas condições, melhor.

Falando no Choque-Rei, como explicar que o Palmeiras tenha vencido todos os jogos contra o São Paulo no Allianz Parque e não consiga quebrar o tabu de 15 anos no Morumbi?


É difícil (explicar), mas já, já vai acontecer de a gente quebrar aquele tabu lá. Ano passado talvez tenhamos feito um bom jogo lá, neste ano eu não estava. Mas são circunstâncias do futebol, tabus sempre acabam aparecendo, mas logo, logo são quebrados.

Desde o seu retorno, o jogo contra o São Paulo foi aquele em que você mais conseguiu resgatar as características que mostrou no ano passado?

Eu fiquei muito feliz nesse jogo. Tecnicamente eu falhei um pouco, mas consegui participar muito bem. Cheguei mais próximo daquilo que estou acostumado a fazer, a intensidade, o dinamismo, ir de área a área com mais facilidade. Nos jogos anteriores eu estava fazendo isso, mas não saía tão natural, estava carregando um peso, fazendo muita força. Nesse jogo, não, já consegui voltar bastante. E a tendência é que no jogo contra o Atlético-MG (no sábado) eu me sinta ainda melhor para fazer tudo isso, que são minhas qualidades de jogo. Quanto mais solto eu estiver fisicamente, mais eu vou evoluir tecnicamente.

Hoje, quais são suas metas individuai?

Primeiro é não se lesionar, essa é minha principal meta. Vou fazer trabalhos preventivos durante esse período, me cuidar bastante fisicamente, para que uma lesão não interrompa meus treinamentos e minha sequência de jogos. E também, junto com isso, fazer um excelente segundo turno, o melhor possível, e de repente beliscar o título do segundo turno, a vaga na Libertadores, quem sabe o título do campeonato... A partir disso, se eu conseguir alcançar tudo isso, a gente passa a pensar também em objetivos individuais, alguns troféu, como ganhei ano passado.

Para ganhar a Libertadores, o segredo é estar sempre disputando?

Exatamente isso, a gente tem que continuar lá. Quanto mais você participar, maiores são suas chances de ganhar a Libertadores. E o Palmeiras montou um planejamento que não é para 2017, é para ser vitorioso nos próximos dois, três, quatro anos. Eu não tenho dúvida de que esse planejamento foi bem feito e que o clube irá conquistar objetivos e títulos.

O fato de não ter rendido títulos nesse ano gerou críticas a esse planejamento. O trabalho do Cuca também foi questionado...
O Cuca é um cara que me ajudou bastante, é um cara muito experiente e vencedor. Com o trabalho que foi feito ano passado, era Cuca, Cuca, Cuca, melhor treinador... Ele chegou em um momento de instabilidade, não conseguiu alguns resultados, e aí passou a não ser tão bom, o ano passado virou só uma fase. É um vai e vem muito grande, uma hora você está lá em cima, na outra você está lá embaixo. Tem de ter um auto-controle muito grande, saber o que você está fazendo. E ele é um treinador que já provou várias vezes que quando tem tempo para trabalhar e consegue colocar o que pensa, faz bons trabalhos. Eu não tenho dúvida de que agora nesse segundo turno vamos fazer bons jogos e ele vai mostrar mais uma vez que todos estavam errados quando o criticaram.

O Alexandre Mattos, principal responsável por esse planejamento, também foi cobrado. O que você pensa disso?

Sobre o Alexandre Mattos, é até bom falar, porque eu vejo muitas críticas a ele. E são críticas que, às vezes, parecem ser até pessoais. Porque não é possível que uma pessoa julgue o trabalho do Alexandre Mattos ruim. Não só em questão de contratações, mas o que ele faz aqui dentro na gestão de jogadores, com o Cuca, com todo mundo. O cara faz um trabalho excepcional. Ele contratou jogadores que todos queriam, ele que foi lá e conseguiu contratar. Não importa se tinha dinheiro ou se não tinha. Naquele momento, todos que tivessem aquele dinheiro iriam tentar contratar esses jogadores, e o Alexandre contratou, todo mundo elogiou na época. Se o jogador não está dando certo ou passando por uma fase ruim as pessoas querem julgá-lo como um cara que gasta muito dinheiro, que contrata jogadores que não deveria. Esquecem de falar que ele me contratou praticamente de graça, foi lá na Croácia e me achou. As pessoas não exaltam muito isso, não exaltam a contratação do Tchê Tchê... As pessoas só exaltam o momento ruim. Precisam ter sensibilidade para criticar quando tem que criticar e elogiar quando tem que elogiar. E acho que o trabalho do Alexandre é mais de se elogiar do que de se criticar.

Você disse depois do clássico que o adversário do Palmeiras no campeonato é o próprio Palmeiras. Por que isso?

A gente tem qualidade, tem um time que pode render muito mais do que está rendendo, e já mostramos isso contra o São Paulo. A gente tem que esquecer os adversários e fazer o máximo de pontos que der. A gente tomou uma distância muito longa do primeiro colocado, então temos que procurar atingir um nível bom de jogo, buscar aquele futebol envolvente que a gente tem qualidade para fazer, e a partir disso você vê o que o campeonato vai te proporcionar. Hoje, nosso principal objetivo tem que ser fazer o máximo de pontos, ir melhor do que no primeiro turno, ir melhor do que no segundo turno do ano passado, coisas assim. A única forma de a gente conquistar alguma coisa é fazendo um grande segundo turno, então o nosso concorrente tem que ser a gente mesmo, a nossa evolução diária.

Você é um jogador que respira Palmeiras, que "mergulhou" no clube. Por que o Palmeiras te atraiu tanto?

O Palmeiras me proporcionou coisas que outros clubes, com todo o respeito, não me proporcionaram: essa visibilidade, esse carinho da torcida, a dimensão que tem. No Palmeiras, se você está bem, todo mundo te joga lá em cima, você fica muito valorizado e todo mundo fala no seu nome. Mas se você não está bem, você não vale nada. A proporção é boa para cima, mas também te joga bem para baixo. Eu nunca tinha jogado em um time com essa dimensão, o Palmeiras me proporcionou isso. Eu interajo com os torcedores, procuro viver isso. Hoje, minha família ama esse clube. Eu tento retribuir.

Essa parte ruim apareceu neste ano, não? A pressão foi muito grande.

Aqui no Palmeiras as coisas tomam uma dimensão muito grande. Às vezes não vem nem aqui de dentro, são pessoas de fora que trazem aqui para dentro, e se você não tiver um cuidado, um trabalho psicológico muito forte, você acaba assumindo uma pressão que não é sua. Tem que ter cuidado, porque da mesma forma que essa dimensão te traz coisas boas, também pode trazer coisas ruins. Você tem que ter um auto-controle muito grande para saber que as coisas ruins podem não ser tão ruins assim, e quando você estiver bem saber falar: "Opa, espera aí, eu tenho minha qualidade, tenho minha importância, mas também não sou nada fora do normal. Pezinho no chão". 

Você acha que, em algum momento, essa pressão foi trazida aqui para dentro?

A pressão foi muito grande, né? Querendo ou não, pela qualidade que tinha o elenco, a gente se cobrou bastante para fazer jogos melhores. Acabou não acontecendo. Quando a confiança abala um pouco, você acaba fazendo coisas que não queria fazer. Talvez possa ter atrapalhado um pouco, sim, mas é bom que a gente aprende para o próximo ano.

O período fora do time, só torcendo, te fez entender o sentimento dos palmeirenses?

Ajuda. Nesse tempo que fiquei fora, virei um torcedor. Em todos os jogos estava na arquibancada torcendo junto. Claro que tinha uma visão diferente por entender o que se passa dentro do campo, mas você fica ali querendo que faça gol toda hora, e irrita quando toma gol no fim... Eu vivi essas emoções, e a gente passa a entender, sim, o lado do torcedor. Eles pagam ingresso, o ingresso não é barato, às vezes o time não corresponde... Temos que entender essa paixão. Quando mexe com paixão, é difícil controlar.
 Fonte: LANCE!Net
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